A visita da
blogueira cubana - Bernardino Brito
A visita da
blogueira cubana Yoani Sánchez ao Brasil revelou o lamentável atraso em que se
encontra determinados setores da chamada direita e esquerda, o primeiro
querendo torná-la uma heroína e o segundo se esforçando por demonizá-la.
Infelizmente
parte da mídia brasileira ainda tenta induzir o pensamento do telespectador
brasileiro, quase que o considerando como um indivíduo néscio. A necessidade de
defesa ideológica, pra não dizer, doentia, de parte da direita e esquerda,
prejudica o debate, elimina a reflexão racional e desumaniza.
A humanidade
precisa decidir acerca do tipo de sociedade que deseja construir de fato, não
há receitas prontas e sim conhecimentos teóricos e empíricos que lançam luzes
sobre os desafios que estão colocados. Uma postura de humildade deve imperar a
fim de permitir o amadurecimento dessas e outras questões, de outro modo, não
será possível qualquer tipo de avanço.
Os
socialistas, aqui me incluo, devem aceitar sem receio que o modelo comunista da
ex-União Soviética e do leste europeu não sobreviveu por uma série de fatores
que exigem uma análise muito mais profunda. Todavia a impossibilidade de
abordar o problema com maior riqueza de aspectos não me impede aqui de citar
alguns pontos que julgo de grande relevância e que terminou por desgastar o
modelo, sendo estes, baixa produtividade, escassez, falta de incentivo à
criatividade e inovação pessoal,etc. Sem dúvida, o principal aspecto de degradação se traduziu na
redução do homem a um mero instrumento do estado, um regime coletivista que negou
demasiadamente o indivíduo, o que trouxe sérias consequências a liberdade.
A
experiência demonstrou que por mais que uma sociedade esteja voltada as prioridades
sociais, o excessivo poder nas mãos de poucos, a burocracia, o preconceito a
propriedade privada e a constante vigilância ideológica, são elementos que no
decorrer do tempo impõe limites a própria sobrevivência do sistema.
Quanto ao
capitalismo, nós já o conhecemos bem, sobretudo em sua forma atual, neoliberal,
selvagem, onde o mercado se faz soberano, reduzindo o papel do estado como
regulador e gerenciador das relações sociais. Toda sociedade fica submetida ao
jogo do livre mercado e da ciranda financeira, a liberdade capitalista tão
exaltada e contraposta ao comunismo se desmorona diante dos escândalos de corrupção, fome,
concentração de riqueza, violência, fraudes e crises cíclicas.
Nesse
sentido, torna-se inviável a extrema direita insistir em difamar Cuba, país
pobre, mas que alcançou índices sociais bem superiores a muitos países da
América Latina e África.
No entanto,
devemos reconhecer (eu de modo particular, porque estudei cuba por 12 anos) que
o modelo chegou ao seu limite e o grande desafio de mudança se encontra nas
mãos do povo cubano. Nossos militantes de esquerda precisam compreender e
aceitar esta realidade, o esgotamento do regime cubano, do mesmo modo como a
Europa também deverá aprender com a crise, e quem sabe ressuscitar a social democracia.
A aceitação
dos limites do socialismo real e do capitalismo ajuda a oxigenar e organizar o pensamento e
nos impulsiona e motiva para a busca de respostas, sabemos, porém, que não é tarefa fácil formular
propostas para melhorar o mundo em meio ao caos econômico.
De algo temos
certeza, a saída para a humanidade passa pelo diálogo e pela manutenção da paz
entre os povos, afinal, não há mais espaço para truculência no mundo globalizado.
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